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A pintura e o jogo da pintura


CURADORIA: VANDA MANGIA KLABIN

Essa exposição tem por objetivo apresentar ao público, um conjunto de obras do artista Luiz Áquila, um dos mais consagrados do cenário nacional da cultura contemporânea. A extrema jovialidade de Luiz Áquila, com quase setenta anos, está em plena forma: repensando, rediscutindo e reinventando a extraordinária tradição pictórica moderna e o artista apresenta no SESC/Quitandinha, uma mostra progressiva em seu trabalho com uma série de pinturas e desenhos realizados a partir de 1979, onde as cores atuam como vetores de força na construção interna de seu trabalho plástico.

Luiz Áquila é considerado um dos pintores brasileiros mais ativos de sua geração. Iniciou seu aprendizado artístico no curso de pintura com Aluísio Carvão; no curso de desenho com Tiziana Buonazzola e de xilogravura com Oswald Goeldi. Posteriomente, entre as suas atividades profissionais, esteve à frente do Curso Livre na Escola de Artes Visuais, no Parque Lage/RJ. Ali desempenhou um papel importante, sendo responsável por toda uma geração de novos artistas no final da década de 1980, onde discutiu contínua e incessantemente os enigmas da pintura. Artista de sensibilidade ímpar, soube adequar seu trabalho às questões da arte contemporânea, enquanto desenvolvia uma linguagem pictórica baseada na investigação de campos cromáticos e na problematização do espaço.

De fato, a sua poética sempre viveu da reafirmação constante dos valores estéticos modernos - nada mais justo, portanto, que se beneficie do seu caráter aberto e prospectivo de sua aventura cromática. A ideia da curadoria é tirar partido dessa mobilidade e desse frescor revigorante de suas pinceladas, numa exposição que reúna somente grandes e médias telas e alguns desenhos do artista.

A pintura é o seu principal veículo expressivo e a sua primeira vocação. Comprometido com a tradição expressionista de um pensamento autônomo para a pintura, nunca se deu por satisfeito em seu discurso. E ao completar cinquenta anos de sólida carreira, realiza trabalhos que conjugam sua amadurecida articulação espacial do plano pictórico, com linguagens e processos de criação experimentais.

Neste recorte de sua produção, Luiz Áquila apresenta suas investigações em formatos que ultrapassam a escala usual de suas obras e que contam com um repertório de tratamentos novos e ricos de superfície. O artista aborda também a espacialidade física de seus quadros articulando-os em módulos justapostos ou até mesmo sobrepostos entre si.

O espaço é sempre ativado de maneira inédita em sua produção, com arrojadas e vibrantes combinações de planos de cor, luz e formas, potencializando o campos cromáticos e trazendo outras possibilidades para a linguagem artística. A cor emana de sua tela com um efeito envolvente, uma gestualidade que arrasta em seu movimento um emaranhado e manchas de tinta que se enlaçam na superfície pictórica e ali germinam e quase flutuam, vibrantes e intensos contrastes de cores.

Se para olhar Henri Matisse é preciso olhar as cores, no amplo território plástico de Luiz Áquila observamos uma perturbadora espacialidade de cromática, oposições audaciosas de cores e inquietações geradas no embate cotidiano com a tela e seu trabalho parece adquirir uma interioridade, uma forma plástica peculiar de pensamento, uma consciência ampliada de sua dimensão artística.

Serão apresentadas doze telas de grandes e médias dimensões e uma série de desenhos em técnicas mistas, datadas a partir de 1979, obras essas que servem como um interessante panorama de visualização de seulaboratório de criação. É nelas que as articulações e soluções serão previamente

experimentadas para depois habitar os quadros definitivos e por outro lado, representam uma importante contribuições à arte contemporânea brasileira e revelam a sensibilidade desse artista que continua questionando e desafiando a si e a seu próprio trabalho.

A estrutura de seu trabalho se processa pela acumulação cromática e nessa orquestração do trabalho, os elementos de cor se organizam, se diluem ou se acumulam em intensidades saturadas em situações quase limiares., quase uma tela de natureza líquida, fluida, movente, dramatizada pela natureza imanente da impregnação e saturação da cor.

O jogo rítmico das cores exercita os componentes do olhar e no conjunto, aparece uma dinâmica da geometria e das cores na superfície da tela, criando acontecimentos plásticos, grupamentos discursivos pictóricos e inquietos contrapontos visuais, assim como articulações infinitas que aportam uma espessura aos trabalhos e criam uma disponibilidade plástica para o olhar.

A pintura de Luiz Áquila ocupa, na história de nossa arte brasileira, uma posição singular, tanto pelo requinte cromático quanto pela extrema complexidade formal. De fato, linhas e cores interagem em seu espaço pictórico e constituem uma dinâmica particular sempre renovada, que consegue sustentar o interesse vivo por questões plásticas. A sua produção sistemática, com o passar dos anos, foi configurando um campo pictórico autônomo, marcado pelo espírito de pesquisa permanente, que demanda de todos nós uma postura mais atenta e reflexiva se quisermos acompanhar as suas evoluções surpreendentes.

Vanda Mangia Klabin

fevereiro de 2013

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