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Catálogo da Exposição “Luiz Aquila Back to UK” - Lauro Cavalcanti


Aquila in UK


Lauro Cavalcanti- Diretor do Paço Imperial – Rio de Janeiro

Quase trinta  anos separam esta exposição daquela efetuada por  Luiz Aquila na Galeria de Arte da Liverpool University. Mudaram os ares e muita coisa mudou nesse período de tempo. O jovem  estudante da Slade em 1972/73 se transformou em um dos mais importantes pintores brasileiros e um dos responsáveis pelo grande movimento em torno da pintura no Brasil, iniciado nos anos oitenta. Os estudos de Luiz Aquila na Europa em geral e na Inglaterra em particular, foram estimulantes para o estabelecimento de sua linguagem e determinantes para a sua crença no papel das escolas e no ensino de arte na formação de artistas. Pertencendo a uma geração que privilegiou o autodidatismo –possivelmente por conta da ortodoxia do ensino de arte  nas escolas  então existentes-  Aquila fez da Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro o seu  atelier e a trincheira para a formação de novos artistas. Belos frutos resultaram em sua obra e na carreira de artistas cariocas agora na faixa de seus quarenta anos.

Os títulos dos trabalhos de Luiz Aquila são sempre iniciados pelas palavras  “A Pintura” Tal fato indica duas pistas: primeiro que seus trabalhos dialogam e se referem à história da Pintura como categoria ampla da arte. As pinturas de Aquila estão articuladas com a pintura norte-americana do pós-guerra, sobretudo no que se refere aos “color-fields” e à analogia com o espaço real geográfico. A tela de Aquila dialoga com os processos pictóricos nos quais a pintura jamais é uniformizada por gestos automáticos preenchendo um desenho previamente estabelecido. Os gestos, conflitos e aproximações formais aparecem como registro do percurso para formar o quadro. A segunda pista aponta para o pertencimento de cada tela ao conjunto da obra do próprio artista. Na retina e no espaço mental cada um de seus trabalhos se junta, solicitando que o espectador forme uma grande tela. Nesse sentido a sua produção seria uma pintura em permanente construção, correspondente visual do conceito da Never Ending Tour  do poeta e músico Bob Dylan.

Pinturas , “remixes” e obras sobre papel compõe a presente mostra na galeria da Embaixada do Brasil em Londres. Instigante notar a diversidade e unidade do conjunto. Os desenhos de 1978 e os “remixes” de agora –serigrafias interferidas individualmente pelo autor- guardam semelhanças estruturais nas suas relações e natureza entre a pintura e o gráfico. Nos trabalhos em papel as interferências em cor estão  aplicadas como desenho. Nas pinturas as cores atuam como


personagens que , junto com os gestos do autor, expressam a coexistência e tensões entre projeto, momento e processo . Dramas por vezes intraduzíveis -- como na arte, no cotidiano, nos países de hemisférios diversos e no mundo...

Texto crítico de Lauro Cavalcanti para o catálogo da Exposição “Luiz Aquila Back to UK” na Gallery 32, Londres em 2002.

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