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The art Book - Paulo Klein

Luiz Áquila da Rocha Miranda - inspirador da Geração 80 – em harmonia com a evolução da Pintura do B


Muito se fala da importância da Geração 80 no contexto das Artes Plásticas do Brasil. Fenômeno brasileiro de um período, a partir do título da exposição realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1984 - Como Vai Você Geração 80 ?-, mais do que um movimento teve a capacidade de se espalhar pelo País nos anos posteriores, contribuindo com a recuperação das possibilidades da Pintura. Mas não se pode tratar da Geração 80 sem referendar Luiz Aquila da Rocha Miranda, chamado naquela década - respeitosamente - de mentor daqueles jovens artistas, na verdade dezenas e dezenas de pintores que reconheceram nele o defensor heróico da Pintura. Chamado “Pai da Geração 80”, Aquila é um dos importantes artistas brasileiros vivos e em atividade no Brasil, com mais de meio século de dedicação às Artes. Nos anos 80 ele foi diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro e exerceu o que, ironicamente, chamava de “resistência da pintura”.

Aquila tem se mantido atuante na arte brasileira, ao longo de todos estes anos, como um dos mais produtivos e vigorosos pintores, enfrentando – com as ferramentas tradicionais da Pintura - as pirotecnias e modismos das chamadas artes visuais. Frente aos conceituais, às ondas de projetos diferenciados, instalações e novas tecnologias, respondeu sempre com a originalidade poética e colorida de sua pintura, resistindo com telas, pincéis e tintas que constituíram, através dele, uma paleta brasileira além do óbvio.

Lauro Cavalcanti salienta o fato de Aquila ter lecionado na Universidade de Brasília na década de 60, escola que “valorizava a sistematicidade e o planejamento da ação”. Talvez por isso – continua Cavalcanti – “ele sintetize, em método próprio, o registro de momentos, dentro de um processo infinito que aproxima estruturas que não se pode representar”. “Por um lado” – revela o crítico – “a pintura garante-lhe a certeza da coerência histórica da técnica. Por outro, os resultados variáveis da prática indicam a concretização do trabalho presente”. E, cita um preceito de Aquila: “Gosto da relação dinâmica entre ordem e quebra de estruturas”.

Casimiro Xavier de Mendonça, autor de uma importante reflexão sobre Luiz Aquila, aprofunda outra questão, a de sua constante e dedicada relação com a Pintura: “É explicável” – escreve Mendonça – “a evolução da Pintura de Luiz Áquila na direção em que ela toma atualmente, também pelo fato de que é um dos pintores brasileiros que mais teve contato físico e visual com boas telas e boa pintura. Ele foi vizinho de Djanira, filho de um personagem singular, e de rara cultura, que foi o arquiteto Alcides da Rocha Miranda, conviveu com Guignard e Aloísio Carvão, ao mesmo tempo, em bolsas sucessivas, teve mais convívio com pintura européia – em Paris, Londres e Lisboa – do que a média dos pintores brasileiros. Para um pintor, esse tipo de informação é implacável e conta muito. Só quem vê muita pintura pode desenvolver um tipo de imaginário de qualidade que não se revela ao primeiro momento. Só quem se acostumou a conviver com algumas obras-chave da pintura acaba percebendo como é que se pode trabalhar um tempo pictórico – um crescendo, numa tela que não é apenas o que se vê inicialmente”.

Aspectos como a liberdade do desenho e da elaboração colorística, o esquema de áreas organizadas, em paralelo a outras sujas e confusas que, em entrevista a Wilson Coutinho, ele chamava de “fuzarca” na pintura, são elementos estruturais em sua pintura e conferem, a cada tela ou papel de Áquila, uma sedução própria, nunca repetida.



Por outro lado, na titulação de sua obra, o artista trabalha a inteligência em contigüidade às experiências de vida e à

história da pintura, destilando, com ironia e sagacidade, seu humor em títulos como A Pintura e o Sobressalto (1995), A Pintura e a Assinatura em Azul, ambas de 1995, A Pintura e o Nome do Quadro Novo (2001) ou A Pintura e o Trapézio, de 2002.

Gesto, construção, tensão e intenção, áreas restritas em obras sobre papel, movimentos expansivos nas grandes telas, as pinturas de Luiz Aquila evidenciam sua liberdade culta no ato de criar, marcam a incorporação potente da pintura na arte brasileira, representante que é da criatividade sintonizada com os melhores olhares do mundo.

Luiz Aquila torna concretas – a partir de sua produção desenvolvida sempre com luz natural – as possibilidades abstratas, gestos livres, imaginação soberba, criando espaços sedutores com traços, pinceladas e manchas de cor, reflexos de sua interioridade indomável, que valorizam sobremodo a Pintura brasileira.

Paulo KLEIN Crítico e curador de Arte

(Texto publicado originalmente no livro The Art Book – Abstratos , Editora Décor – São Paulo 2006)

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