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O Globo - Frederico Morais

Luiz Aquila - 1979


Aluno do curso de Aluisio Carvão, no Museu de Arte Moderna do Rio, no auge do neoconcretismo (1959/60), Luiz Aquila não seguiu a pintura geométrica de seu mestre, seu despojamento cromático. Mas compreendeu desde cedo que o quadro é uma realidade em si mesma, tem suas próprias leis e arma seu próprio jogo. É possível que Brasília, uma das raras cidades onde o espaço é parte determinante de seu significado, tenha repercutido em sua pintura, como na de tantos outros pintores que ali viveram. Durante algum tempo, para um espectador menos avisado, Luiz Aquila parecia vacilar entre a figura e a abstração, já que em seus quadros como que aludia a uma paisagem lentamente sublimada pela forma.

Na verdade, tratava-se de uma paisagem artificial que atendia apenas às necessidades específicas da cor e da forma. Hoje isso é mais claro: o pintor está interessado em pintar, em realizar o que desde algum tempo vem sendo chamado de pintura-pintura. Isto apesar do poeta Eudoro Macieira referir-se à “fabulação abstrata” de sua pintura, nela descobrindo “de estalo, a força de um grafismo irrascível, que aqui e ali se atenua num outro plano de ondulações mais leves, cheias de ar”, “a tensão entre o contínuo e o descontínuo, entre a reta e a curva, entre o ângulo e o círculo”. E mais, Luiz Aquila, hoje um dos melhores pintores brasileiros, parece interessado em discutir, sem negar, a moldura do quadro, inclusive aquela interna que ele cria pelo simples prazer de ultrapassar seus limites.

Crítica de Frederico Morais, publicada no Jornal “O Globo” em 22 de julho de 1979



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